domingo, 31 de dezembro de 2006

TEATRO POPULAR

O ALMOÇO NA VINHA

A IDA AO POÇO


















A FALTA DE AGUA E OS MEXERICOS

OS USOS E COSTUMES DA MINHA TERRA

PEÇA DA AUTORIA DE MARIA JOSÉ FRAQUEZA



TEMPOS ANTIGOS...TEMPOS MODERNOS

Problemas da Falta de Água


Naquele tempo... existiam poços por quase todo o Algarve... as lendas das mouras encantadas nos falam deles. Nalgumas aldeias a água para todos os gastos era tirada de poços, das noras, das cisternas ou de fontes naturais.

Junto destes locais quase sempre se formavam grupos de mulheres que davam à língua, enquanto iam tirando a água a baldes e enchendo as vasilhas (cântaros, tachos, panelas, infusas, quartas, baldes, etc).

Neste tempo a água dos poços era vendida por aguadeiras que a transportavam de mula ou burro, que sobre as cangalhas levavam alguns cântaros de barro, para os locais de consumo (vilas e aldeias). Mais tarde, porque o consumo aumentava, bem como a população, surgiram os carros próprios de aguadeiros que igualmente faziam a distribuição pública da água (a 1$20 por cântaro e $50 por enfusa) dos poços.

Nos anos quarenta/cinquenta, na minha aldeia, ainda conheci alguns poços que eram públicos e outros poços particulares - os das vizinhas - que franqueavam a água às suas conterrâneas. O precioso líquido para a comida e para matar a sede, era apenas fornecido pelo aguadeiro ou pelo o mais famoso Poço da Arte Nova, mais ou menos a 500 metros da povoação. A água fornecida pelo aguadeiro, não chegava para todos os gastos domésticos e nas bichas era sempre um problema! As mulheres sempre muito cuidadosas, ou compravam ao aguadeiro, ou pediam as vizinhas que tinham poços nos quintais, ou iam... pela madrugada... pela linha férrea, até à Arte-Nova ou pela baixa-mar pelo Resinde - a famosa praia da época.

Para as mulheres mais exigentes na limpeza a água nunca chegava...
E onde estava a boa água para pôr os grãos de molho e cozerem mais depressa? E para as ruas... que elas tanto gostava de baldear?

Mal rompia o sol no horizonte... já algumas vinham do poço e outras iam para lá. Com os seus cântaros à cabeça, bilhas de barro, baldes e panelas seguiam para a Arte-Nova em grupos. Nestes

O poço situa-se perto da passagem de nível, ainda hoje existente.Segundo as nossas mulheres, era uma das águas melhores para o consumo.

Logo pela madrugada, batiam às portas das vizinhas e lá seguiam pelo carreirinho estreito, junto à linha-férrea. Eram vê-las decididas, robustas e trabalhadoras. Quando as uvas, começavam a pintar o bago, os caminhos ficavam ainda mais belos. Mas havia que tomar precauções... Isso, sim! Porque nas vinhas estava o vigia - o "vinheiro"(vigia da vinha). Depois... tinham de se entender com o Sr. Regedor, ou até mesmo com o vinhateiro, (proprietário da vinha) quando surgia algum problema. A vigilância era constante...
A Atalaia era um autêntico paraíso. As vinhas e a bela uva negra mole, com que faziam o precioso vinho da Fuseta, faziam a cobiça aos olhos do visitante.
E daqueles meus passeios matinais ficaram estas recordações que o tempo ainda não apagou .

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