quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O TEATRO POPULAR

No Dia de Natal foi apresentada da Peça de Teatro "ERA ASSIM O NATAL" da autoria de Maria José Fraqueza, a Cena I - A Casa Pobre - num espectáculo que além da representação teatral, teve a colaboração musical dos "Amigos Fusetenses" grupo constituído pelos consagrados artistas fusetenses - Sara Gonçalves e Domingos Caetano da afamada Banda Íris, entre outros jovens.
Foi um festa de Natal que encantou o público assistente.
Da peça de teatro, apresentamos algumas fotos que retratam alguns momentos
ocorridos como o "amassar das empanadilhas e brenhóis" em que as mulheres fusetenses partilhavam os seus segredos, na noite da consoada.
Esta peça completa percorreu o Algarve há 15 anos atrás, em espectáculos promovidos pela Delegação do Inatel de Faro, com grande êxito.

UM ASPECTO DA CENA EM QUE SE VÊ A MÃE DA ANEQUINHA , A PRÓPRIA E A VIZINHA AMBRÓISA QUE VEM AMASSAR OS FRITOS.

A VIZINHA JÓQUINA QUE CHEGOU DEPOIS PARTILHANDO DA AMASSADURA

ELAS NA SUA TAREFA E A VELHOTA FAZ A TIPICA MEIA DE LÃ PARA OS PESCADORES

CONTINUANDO O SEU "ESTRABUCHE"...
FAZEM SERÃO AGUARDANDO A CHEGADA DO MARIDO DA ANEQUINHA
QUE ANDA NA "GERALDINHA" ATRÁS DOS CHAROLEIROS


REVELAM OS SEGREDOS DAS "BORREFAS DAS EMPANADILHAS"
ENQUANTO AMASSAM VÃO CANTANDO AS CANTIGAS DO SEU TEMPO...

A MANA ANEQUINHA NA CHAMINÉ ACENDE O FOGÃO PARA INICIAR AS FRITURAS

A VELHA MÃE CONTINUA O SEU SERÃO AGUARDANDO A CHEGADA DO GENRO

CHEGA A FILHA MAIS VELHA DA MERCIARIA DO SR. ANTONICO

A LUZ DO CANDIEIRO A PETROLEO APAGOU-SE....

AS VIZINHAS COM A MANA ANEQUINHA VÃO TENDER AS FILHÓS
UM ASPECTO PARCIAL DO PUBLICO

Esta cena teve a participação dos seguintes elementos:
MANA ANEQUINHA - Aliete Rodrigues - MÃE DA ANEQUINHA - Elzita da Paz -
VIZINHA AMBRÓISA - Vera Lucia - VIZINHA JÓQUINA - Maria da Graça
VIZINHA FAUSTINA - Mulher do Sr. Elvino
FILHAS DA ANEQUINHA: Magali, Margarida Picoito e Francisca Canas
MARIDO DA ANEQUINHA: Maria Benta
























terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CHAROLA "AS MATRAQUEIRAS"



O REGRESSO DAS MATRAQUEIRAS


Este grupo de Cantares de Natal - Charola Fusetense - "AS MATRAQUEIRAS" foi fundado por Maria José Fraqueza em Dezembro de 1992, tendo sido a sua primeira apresentação, no dia 2 de Janeiro de 1993, data em que se iniciam as charolas no Sotavento Algarvio. Percorreu todo o Algarve cantando de forma tradicional. O nome "matraqueiras" deriva dos instrumentos com que elas, quando crianças cantavam as janeiras pelas portas e casas dos senhores que lhe davam entrada. Era propriamente um grupo coral, sem instrumentos musicais.
Constituído por mulheres e crianças que eram ensaiadas pela sua fundadora.

Após algum tempo de ausência o Grupo reinciou a sua actividade e vai ter a sua primeira

exibibição publica no exterior, no dia 2 de Janeiro, pelas 16 horas no Largo da Igreja em Pechão, seguindo-se no dia 6 de Janeiro na sua terra Natal.


EXIBIÇÃO NA CIDADE DE FARO COM SEU TRAJE DE APRESENTAÇÃO

EXIBIÇÃO NO SPORT LISBOA E FUSETA COM TRAJE TIPICO

Do seu reportório apresentamos um cantico novo, com letra e música da autora, que foi muito aplaudido



NOITE GELADA



Foi numa noite gelada

Que o Menino Deus nasceu

Na cabana iluminada

A Estrela resplandeceu...



Natal, a mais linda noite de Luar

E a Virgem adorada

Como Mãe foi consagrada

Rainha e fada do Lar



REFRÃO



Pastores vieram de longe

Para o Menino Adorar

Trouxeram belos cordeiros

Do seu rebenho sem par...

Os Reis Magos num momento

Sem parar....

Caminharam ao relento

Pois creem no sacramento

Vêm Jesus adorar!



Naquela noite tão fria

Em que o anjo anunciou

- Bendita sejas Maria!

- Gloria in Excelcius soou...



Naquela noite tão bela, de encantar

Jesus mostrou nobre exemplo

Da Cabana fez um templo

Da manjedoura um Altar!


MENINO RISONHO

Menino Risonho
Brilhante o olhar
Por vezes, suponho
Ver nele o Luar.

Menino risonho
No meu sonho belo
Menino risonho
Menino te ponho
Noutro paralelo

Menino Risonho
Boquita de riso
Menino de sonho
Do meu paraiso.

Menino risonho
Menino de Luz
Menino risonho
Menino de Sonho
Menino Jesus!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O ALTAR DO MENINO JESUS

O PRESÉPIO TRADICIONAL ALGARVIO PRESENTE NO MEU AUDITÓRIO






EXPOSIÇÃO NO AUDITÓRIO DA CASA MUSEU

O Altar do Menino Jesus é uma velha tradição dos meus avós louletanos
e da minha bisavó materna de S. Brás de Alportel que pretendi levar a efeito
em sua homenagem, presente ao público no Auditório da minha Casa Museu.
O altar está decorado de forma tradicional. As toalhas de altar foram executadas pela minha avó materna e pela minha mãe que eram umas artistas na arte de rendas e bordados.

(1º Premio - Conto Natal - Brasil)

O ALTAR DO MENINO JESUS

Por: Maria José Fraqueza

Algumas tradições natalícias vão extinguindo nos nossos dias.
Embora alguns
mais agarrados a elas procurem mantê-las, há muitos costumes que foram desaparecendo. As crianças actuais já não vivem os velhos sonhos da inocência, esses sonhos num mundo de magia por desvendar, os seus sonhos cor de rosa feitos de pequenas ilusões... elas sabem já que os bébés não vêm no “ bico da cegonha” e os “pais natais” ou o “Menino Jesus”, também não descem às chaminés. As famílias mais tradicionais, principalmente nas aldeias serranas e algumas do litoral, tinham o hábito de fazer o Altar do Menino Jesus, a que alguns designam por “Presépio Tradicional do Algarve, costume de arte popular que foi bastante usual no século XIX.
A minha bisavó materna que ia sempre festejar o
Natal a casa de sua mãe que vivia numa aldeia distante, com ela havia aprendido a fazer o Altar do Menino Jesus
– o Altar das Searinhas – tal como ela dizia.
Mal começava o mês de Dezembro, era chegado o dia oito
– Dia de Nossa Senhora da Conceição e já em casa havia os grãos de trigo para as searinhas.
- Vamos pôr o trigo de molho nos pratinhos, a ver qual a
searinha que mais cresce? – dizia entusiasmada a minha avó e continuava:
- Aquela que mais crescer será aquele que receberá mais
bênçãos do Céu por ter cumprido os seus deveres, isto é, o Menino Jesus há-de colocar mais presentes no seu das para os diversos planos de escada do altar. Qual deles o melhor bordado, feito pelas suas mãos hábeis de mulher rendeira. E as lindas rendas de bilro e de crochet na ponta dos “naperons” bordados com lindos motivos.
Depois, vestia primorosamente o Menino, com um lindo vestido cheio de rendas, branco como a neve pura e colocava-o lá no cimo do altar, porque ele era o rei dos reis, dava-lhe um destaque especial.
Era lindo o menino de bracinhos elevados ao céu, de olhos brilhantes e boquinha de romã – uma relíquia de imagem de família, benzida pelo bispo da região.
- Avó quem fez este lindo vestido para o Menino Jesus?
– perguntava ao ver aquela preciosidade rara. Não me dás para o meu boneco?
- Era só o que faltava... este vestido do Menino Jesus foi
a minha bisavó que me deu, é como o vestido de baptizado do teu avô, relíquias que servem apenas para ocasiões mais solenes. O vestido do Menino Jesus é só dele.
- É verdade, ele também passou tanto frio, sem ter roupinhas,
naquela pobre manjedoura ...
- Vês como tu és compreensiva, assim é que os meninos
devem ser.
E o altar que fazia lembrar uma pirâmide, onde sobressaía
o verde e alvura das toalhas de linho. Tudo ia ficando verdinho com as searinhas que cresciam dentro dos pratinhos. Uma decoração simples, singela, mas de tamanha beleza... e as lindas flores de papel, perfumadas com “água de cheiro da flor de laranjeira”,
que lhes dava um aspecto colorido... eram cravos e rosas... daí a velha quadra:

Ó Meu Menino Jesus
A sua capela cheira
Cheira a cravos, cheira a rosas
Cheira a flor de laranjeira.

E lá vinham as vizinhas ver sempre o altar
da Tia Emília, que era sempre o mais bonito. Todos os charoleiros iam lá cantar, junto daquele lindo altar.
Havia sempre uma porta aberta ao coração, as
“filhóses de joelho”, quentinhas para dar a todos que batiam à porta, ou uma “lenguiça” com o belo pão caseiro, que ela amassava também com mestria.
O altar naquela casa era imprescindível, aprendera
a fazê-lo naquela aldeia serrana, onde vivia a sua mãe.
Este velho costume trouxera ela para o litoral algarvio, porque havia casado com um pescador.
Quando recebia algum visitante ( nesta altura era hábito
também a visita dos familiares), tal como no estrangeiroque na época natalícia se deslocam à sua terra natal, vinha sempre a Tia Antónia com um presente de laranjas, e uns colares feitos com bolotas para as crianças.
- Que colares são estes de “beletas”? – perguntei um dia
aos vê-los.
- Isto é para comerem na noite de Natal para não terem
dores de dentes!
Depois lá ia ela ver o famoso altar e ficava embevecida.

Cantavam a oração de Natal e ensinavam-nos velhas cantigas.
Era assim a adoração ao Menino Jesus feita nos lares.
Igualmente pelasruas os “charoleiros” era portadores de um pequeno andor (charola) onde levavam o Menino Jesus pelas ruas, cantando ao som de “matracas” – eram as Janeiras de porta em porta, que anos depois começaram a surgiras actuais charolas.
O costume de fazer o altar decorado com as searinhas

foi-se extinguindo. Há quem faça o presépio, principalmente as igrejas e algumas instituições.
Actualmente, as árvores de Natal, exuberantes de luxo
são predominantes – um contraste com os velhos hábitos que tinham um sabor mais natural, de acordo
com a humildade do Salvador do Mundo.
Por isso, eu jamais esqueço o Altar das Searinhas da
casa da minha bisavó – o mais lindo presépio tradicional do meu Algarve.