sábado, 30 de agosto de 2014


A CONSCIÊNCIA

 

Deus é juiz do sacrário

O Rei de toda a ciência

O mais belo relicário

A consciência da consciência

 

A consciência é santuário

Onde Deus é seu juiz

Tu escreves no teu diário

O que a consciência não diz!

 

Num santuário sagrado

A consciência é a razão

Um segredo bem guardado

Mostra a tua discrição!

 

Num macio travesseiro

A consciência se acalma

Quando o amigo verdadeiro

A tiver dentro da alma!

 

Nas páginas do teu diário

A consciência tem lugar

O mais belo dicionário

Que tu deves consultar!

 

Grande livro de moral

Saído do coração

A consciência é sem igual

Combatente da razão!

 

Por mais que se proclame

Sem pôr os pés num altar

Deves fazer um exame…

Que a Santo não vais chegar!

 

Onde tens a consciência?

Se os teus falsos testemunhos

Na falta de inteligência

Vão p’ró lixo – são rascunhos!

 

Combatente da razão

Esclarecendo a Verdade

Das pancadas que nos dão

No lixo da Humanidade!

 

Porque existe a falsidade

Quando não há consciência

Porque escondes a Verdade

A mentir sem ter decência!

 

Mas num dia de juízo

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

domingo, 7 de outubro de 2012


OS MEUS CONTOS PREMIADOS


A ADIAFA DA TI JÓQUINA


 

Na pequena aldeia alentejana, a vida corria no seu ritmo normal. Os trabalhos campestres eram mal remunerados, muita gente trabalhava nos campos, outros nas minas das redondezas, onde o trabalho era muito mais penoso.

Corria o ano de mil novecentos e quarenta, a vida de miséria, com salários muito baixos, era uma constante daquela época difícil. Uma parte da população, trabalhava nas minas, todavia, a maior parte trabalhava na agricultura, nas herdades dos grandes  senhores feudais daquele tempo. Quer em terrenos cultivados de trigo, quer em terrenos de regadio, uma parte dos homens e mulheres trabalhavam na cultura do arroz.

Naquele ano fui parar ao Alentejo, devido à vida do  meu pai, que viera prestar serviço nos Caminhos de Ferro,  na estação Alvalade-Sado.  Aqui vivemos durante alguns anos, onde decorreu a maior parte da minha saudosa infância. Meu pai, homem muito conversador, bem depressa se habitou aquela gente tão simpática e hospitaleira.

Viera do Algarve, onde havia uma certa semelhança, com aquelas lindas casinhas, todas caiadas duma alvura sem igual. Costumes bem evidentes naquelas duas províncias do sul. Aprendi a ler numa  escola particular, onde haviam apenas  quatro ou cinco crianças. Estas não frequentavam as escolas, porque muitas ajudavam os pais, ou ficando em casa com os irmãos ou avó já velhota,  ou a ajudar nos trabalhos do campo.

Deste modo, pouca gente sabia ler. Hoje recordo com saudade algumas figuras típicas, como  a Ti Mari Jóquina, mulher do Ti Zé Bucho, que era um mulher irrequieta, trabalhadora e activa. Ah! Com que saudade daquele tempo, das belas adiafas, que faziam no final das colheitas ou para celebrar algum acontecimento.  E as lindas cantigas do povo alentejano que ficam no coração de quem os escuta que eram ouvidas nesses momentos de confraternização, eram momentos que tornavam mais amenas as horas difíceis, que minimizavam as amarguras dum trabalho árduo.

Destas recordações do passado, importa reviver  alguns momentos que fazem parte do nosso património cultural, de recorte anedótico e mais popular do nosso povo.

As tabernas e as barbearias eram os locais de encontro e de convívio diário. Alise reuniam, entre uns copitos e dois dedos de conversa, ou uma anedota mais ousada, alguns amigos que eram sempre os habituais  fregueses.

Como eu recordo também o Ti Zé Simão, já velhote, com o seu cachimbo a fumegar, um poeta popular que toda aldeia conhecia e que era sempre um grande animador das melhores ocasiões. Surgiam cantigas ao desafio e muitas modas, ficaram na boca do povo, não só feitas por ele, como de tantos outros, cujos nomes ficaram ignorados.

Quando ao som do bandolim do amigo Custóido se faziam ouvir as lindas quadras, quem agarrava melhor a deixa? Por vezes, alguma mulher mais ousada, entrava na taberna, para rebocar o marido que já estava com a “buída a mais no buche”...  e saltavam com  a sua  trova muito bem atirada.

- Eh! Rai do diabe! Já tás a preparar as goelas para a adiáfa da Ti Jóquina?

O taberneiro enchia mais os copos, até entornar, já estava  “lusco-fusco” e a Ti Chica não acendera ainda os “candeeiros a pitrol”.

Algum mais atento e observador, comentava:

- Voceia já tá mai é a levar a gente à ruína... mai a mim não me leva voceia à certa.

Daqui a nada vem por aí a minha Jóquina, e ai Jesus! Tá o caldo entornado!

- Eh! Compadre, não se deixe mandar por elas! Se le apetece beba, home!

- Ti Sebastião,  este é à minha saúde! Vamos lá mais um copito! 

O Ti Zé Bucho, não resistia à tentação e ia bebendo sem querer...

O Custodim tocava em surdina no bandolim as modinhas alentejanas,  a seu lado o Manel

Longuiça,  cantarolava e incitava os outros, atirava par o ar uma quadra.

 

Tás lindo Zé do Simão

Com o guarda do teu condado

Na taberna do Sabastião

A tocar viola e cantar o fado!

 

O guarda que não gostava da graça,  voltou-se para o Zé Simão, e diz-lhe:

 

-  Então e a sua “reposta”!

- Ah! Eu... é que dou resposta por ti!  - diz o poeta sorrindo.

- Pois você é que é o poeta, fale você por mim que eu o guarde!

- Ma tu és guarda ou anjo da guarda!? Bem vamos lá aos versos:

 

                               Tás lindo Amigo Zé Bucho

                               Assim a matar o bicho

                               Até “cagas de repuxo”

                                A beber só por capricho!

 

- Toma lá que é p’ra na pensares que aguentas mai buída! - disse o guarda todo inchado quem nem um ”pirum” da herdade do João Vaidoso.

E a conversa ia animando e exaltando alguns ânimos à fala. Só assim, caso contrário, não se lhes arrancava a alguns,  uma palavra sequer.

- Vens p’rá aqui com sede de vinhe ,  ó  Chico das Dornas?  Nem  uma pinga d’água

tinhas lá no tê sito, que os eucalitros  que ele prantou lá chuparem toda a água do Rio Sado.... É ou não é verdade?- exclamava o João do Monte, já meio desengonçado e os olhos em bico.

Entre uma risada geral, ninguém respondeu.

A Tia Chica, dona da taberna, ajudava o marido por vezes a “aviar” os fregueses e mandava alguns embora (com quem tinha relações familiares chegadas) quando a coisa estava tremida... Desta vez andava ela entretida a pôr a “scolatêra” de barro para aquecer o café. Pôs uma toalha alva numa mesa que cheirava a “barrela” , “prantou” 

nela um pão douradinho e quente, uma tigela com “zêtonas”  e o “assucre” amarelo.

Começou por servir o café que fumegava e perfumava o ar com o seu rico aroma...

- Cheira que recende! Diz a Ti Chica. E dispunha os “bucros”  de esmalte, nos quais ia deitando o líquido bem quentinho, dizendo:

- Vá lá... venham curtir a bebedeira! Amanhã não se levantam para a adiáfa da Tia Maria Jóquina!

Na verdade, a Tia Maria Joaquina, mulher previdente apareceu precisamente nesse momento.

Olhou em redor, observou o jeito do marido e imediatamente, dirigindo-se  à comadre Chica.

- Parece mentira Comadre Fracisca, a estas horas e não mandou o seu compadre Zé Bucho para casa! A encher demais o bucho com este veneno da buída!  Anda p’ra casa homem, com tanto trabalho e amanhã a adiáfa, quero ver como a gente se safa!

No meio da zanga, a Ti Chica, esqueceu-se de botar mais pitrol nocandeeiro e este apagou-se. 

Fez-se uma escuridão que não deixava observar bem os rostos corados,  pelos efeitos do álcool que nem o sol em brasa fazia na monda.  Apenas o lume chão que crepitava na chaminé dava um pouco de claridade ao ambiente.

- Procura aí os fófos p’ra acender o candeeiro, pediu a Ti Chica, aflita com a torcida que caiu,  após ter posto mais pitrol no recipiente.

O ambiente iluminou-se um pouco mais e a Tia Jóquina viu melhor quem eram os compinchas do marido.

- Pelo andar da carruáge, vi logo quem vinha dentro! Há bocado não enxergui, mas agora estou a ver bem...

- Era melhor que voceia não visse! E mostrou o copo vazio... continuando ... mai voceia não é a irmã da Maria Machadinha?

Ao ouvir a alcunha da irmã, Joaquina,  não gostou da graça e no seu jeito de versejar, respondeu:

                              

                               Não há machado que corte

                               O bico duma arara...

                               Olha que tens muita sorte

                        Não levarás nessa cara!

 

- Vamos lá embora!  Que já estás aqui a mais!

- Não se vá ainda Ti Mari Joquina! Diz o Ti  Zé Simão.

- Gostei dessa, sim senhor!

 

                               Ó Jóquina Feliciana

                               Deste bem o teu recado

                               Que a mulher alentejana

                          Sabe usar bem o machado!

 

Mas a mulher não se ficava sem resposta, ou não fosse ela a Ti Maria Jóquina,  de resposta sempre na boca.

 

                                         Para dar a machadada

                                         Nunca a força me faltou

                                         A ser mulher educada

                                         A minha mãe me ensinou!

 

          E dizendo a quadra,  puxou energicamente pelo casaco do marido e foi levando o homem, ainda meio tonto, para fora da taberna.

 

          Após a saída do casal, fez-se um breve silêncio, que a seguir foi logo cortado pelo mais atrevido:

 

- E esta hem! Elas é que mandam! Nem para jogar uma cartada,  deixou o homem ficar!

- Olha amigo, tu não és alentejano, porque se fosses, sabias que as nossas mulheres, são cautelosas e acompanham sempre os homens nas suas tarefas. As mulheres são sagradas como os filhos, o homem responsabiliza-se pelas suas crias,  até elas botarem corpo. Com a terra a gente cava e pranta a semente, a gente monda e nace a

palha. Nace a espiga e a gente cêfa. Tudo isto tem valor,  como as nossas mulheres para nós,  porque tanto a terra,  como elas,  nos dão frutos do nosso amor.

- Vamos lá, que aqui não morreu ninguém! Façamos uma viva à adiafa da Ti Maria Joquina que vamos amanhã! E erguendo os copos ao alto:

               - Viva a Tia Maria Jóquina! Viva o vitelinho!

               - Viva o vitelinho! Não! Morra o vitelinho! Como é que a gente o come vivo?

               - Abaixo o vitelinho da Ti Jóquina!

......................................................................................

             Começa a gritaria na taberna. O bandolim do Zé Viola,  faz ouvir-se com mais intensidade,  e,  começam a preparar as modinhas alentejanas ao fundo da taberna, junto da lareira que arde como os seus corações.

 

- Mai será um vitelinho ou bezerro?

- Com tanto pessoal, se for como o bezerro que comprei  o ano passado na feira, mai duro nem um chavelho. O vendedor havia garantido que o bezerro pesava vinte arrobas,

mas no fim de contas,  pesava apenas catorze arrobas.

- Pois fica sabendo que compraste  “gato  por  lebre”,  que  não  era  nadadisso, nem vitelinho, nem bezerro,  mas sim  “bod...és”  - disse o taberneiro gracejando.

E assim ficaram, meio tagarelas, dando vivas à adiafa da Ti Maria Jóquina até que a taberna fechou. A Ti Chica  foi obrigada a correr com eles...

- Vamos lá que amanhã é outro dia. Têm de levantar-se ao romper da alva, para ir ajudar à morte do vitelinho da ti Maria Joquina. E sabem que as crias dela,  são da melhor carne alentejana destas redondezas, e os seus petiscos vão ser um primor...de comer e chorar por mais!

Foi uma recordação da minha passagem por terras alentejanas, onde permaneci durante alguns anos da minha infância,  que passei aqui a recordar... esse Alentejo de sonho, de campos verdejantes de paisagens deslumbrantes a perder-se no infinito, em bebedeiras de verde-azul! Foi o rio Sado que um dia me contou esta história,  tão

bela, tão fascinante,  duma parcela que restou dentro do mer ser, em sonhos de água a escorrer pelos terrenos da alma que ficou no coração do seu povo!

 

E parafraseando o poeta direi:

 

          Moram no meu coração

           Amores que em sonhos vejo

          Futuro e recordação

          Como é lindo o Alentejo.

 

 

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

AS MINHAS PEÇAS DE TEATRO

 CENAS DAS PEÇAS:  AS LAVADEIRAS DA MINHA ALDEIA E
RUAS DA MINHA ALDEIA
QUE IRÁ NOVAMENTE À CENA SÁBADO DIA 6 DE OUTUBRO, PELAS 22 HORAS NA CASA DO POVO DE MONCARAPACHO



OS MEUS LIVROS MAIS RECENTES



OS MEUS POEMAS




segunda-feira, 1 de outubro de 2012